segunda-feira, 27 de junho de 2011

Doutor é quem faz Doutorado  

(Texto de autoria do Prof.  Março Antonio Ribeiro Tura) 

No momento em que nós do Ministério Público da União nos preparamos para atuar contra diversas instituições de ensino superior por conta do número mínimo de mestres e doutores, eis que surge (das cinzas) a velha arenga de que o formado em Direito é Doutor.

A história, que, como boa mentira, muda a todo instante seus elementos, volta à moda. Agora não como resultado de ato de Dona Maria, a Pia, mas como consequência do decreto de D. Pedro I.

Fui advogado durante muitos anos antes de ingressar no Ministério Público. Há quase vinte anos sou Professor de Direito. E desde sempre vejo "docentes" e "profissionais" venderem essa balela para os pobres coitados dos alunos.

Quando coordenador de Curso tive o desprazer de chamar a atenção de (in) docentes que mentiam aos alunos dessa maneira. Eu lhes disse, inclusive, que, em vez de espalharem mentiras ouvidas de outros, melhor seria ensinarem seus alunos a escreverem, mas que essa minha esperança não se concretizaria porque nem mesmo eles sabiam escrever.

Pois bem!

Naquela época, a história que se contava era a seguinte: Dona Maria, a Pia, havia "baixado um alvará" pelo qual os advogados portugueses teriam de ser tratados como doutores nas Cortes Brasileiras. Então, por uma "lógica" das mais obtusas, todos os bacharéis do Brasil, magicamente, passaram a ser Doutores. Não é necessária muita inteligência para perceber os erros desse raciocínio. Mas como muita gente pode pensar como um ex-aluno meu, melhor desenvolver o pensamento (dizia meu jovem aluno: "o senhor é Advogado; pra que fazer Doutorado de novo, professor?").

1) Desde já saibamos que Dona Maria, de Pia nada tinha. Era Louca mesmo! E assim era chamada pelo Povo: Dona Maria, a Louca!

2) Em seguida, tenhamos claro que o tão falado alvará jamais existiu. Em 2000, o Senado Federal presenteou-me com mídias digitais contendo a coleção completa dos atos normativos desde a Colônia (mais de quinhentos anos de história normativa). Não se encontra nada sobre advogados, bacharéis, dona Maria, etc. Para quem quiser, a consulta hoje pode ser feita pela Internet.

3) Mas digamos que o tal alvará existisse e que dona Maria não fosse tão louca assim e que o povo fosse simplesmente maledicente. Prestem atenção no que era divulgado: os advogados portugueses deveriam ser tratados como doutores perante as Cortes Brasileiras. Advogados e não quaisquer bacharéis. Portugueses e não quaisquer nacionais. Nas Cortes Brasileiras e só! Se você, portanto, fosse um advogado português em Portugal não seria tratado assim. Se fosse um bacharel (advogado não inscrito no setor competente), ou fosse um juiz ou membro do Ministério Público você não poderia ser tratado assim. E não seria mesmo. Pois os membros da Magistratura e do Ministério Público tinham e têm o tratamento de Excelência (o que muita gente não consegue aprender de jeito nenhum). Os delegados e advogados públicos e privados têm o tratamento de Senhoria. E bacharel, por seu turno, é bacharel; e ponto final!

4) Continuemos. Leiam a Constituição de 1824 e verão que não há "alvará" como ato normativo. E ainda que houvesse, não teria sentido que alguém, com suas capacidades mentais reduzidas (a Pia Senhora), pudesse editar ato jurídico válido. Para piorar: ainda que existisse, com os limites postos ou não, com o advento da República cairiam todos os modos de tratamento em desacordo com o princípio republicano da vedação do privilégio de casta. Na República vale o mérito. E assim ocorreu com muitos tratamentos de natureza nobiliárquica sem qualquer valor a não ser o valor pessoal (como o brasão de nobreza de minha família italiana que guardo por mero capricho porque nada vale além de um cafezinho e isto se somarmos mais dois reais).

A coisa foi tão longe à época que fiz questão de provocar meus adversários insistentemente até que a Ordem dos Advogados do Brasil se pronunciou diversas vezes sobre o tema e encerrou o assunto.

Agora retorna a historieta com ares de renovação, mas com as velhas mentiras de sempre.

Agora o ato é um "decreto". E o "culpado" é Dom Pedro I (IV em Portugal).

Mas o enredo é idêntico. E as palavras se aplicam a ele com perfeição.

Vamos enterrar tudo isso com um só golpe?!

A Lei de 11 de agosto de 1827, responsável pela criação dos cursos jurídicos no Brasil, em seu nono artigo diz com todas as letras: "Os que frequentarem os cinco anos de qualquer dos Cursos, com aprovação, conseguirão o grau de Bachareis formados. Haverá tambem o grau de Doutor, que será conferido àqueles que se habilitarem com os requisitos que se especificarem nos Estatutos que devem formar-se, e só os que o obtiverem poderão ser escolhidos para Lentes".

Traduzindo o óbvio. A) Conclusão do curso de cinco anos: Bacharel. B) Cumprimento dos requisitos especificados nos Estatutos: Doutor. C) Obtenção do título de Doutor: candidatura a Lente (hoje Livre-Docente, pré-requisito para ser Professor Titular). Entendamos de vez: os Estatutos são das respectivas Faculdades de Direito existentes naqueles tempos (São Paulo, Olinda e Recife). A Ordem dos Advogados do Brasil só veio a existir com seus Estatutos (que não são acadêmicos) nos anos trinta.

Senhores.

Doutor é apenas quem faz Doutorado. E isso vale também para médicos, dentistas, etc, etc.

A tradição faz com que nos chamemos de Doutores. Mas isso não torna Doutor nenhum médico, dentista, veterinário e, mui especialmente, advogados.

Falo com sossego.

Afinal, após o meu mestrado, fui aprovado mais de quatro vezes em concursos no Brasil e na Europa e defendi minha tese de Doutorado em Direito Internacional e Integração Econômica na Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Aliás, disse eu: tese de Doutorado! Esse nome não se aplica aos trabalhos de graduação, de especialização e de mestrado. E nenhuma peça judicial pode ser chamada de tese, com decência e honestidade.

Escrevi mais de trezentos artigos, pareceres (não simples cotas), ensaios e livros. Uma verificação no sítio eletrônico do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) pode compravar o que digo. Tudo devidamente publicado no Brasil, na Dinamarca, na Alemanha, na Itália, na França, Suécia, México. Não chamo nenhum destes trabalhos de tese, a não ser minha sofrida tese de Doutorado.

Após anos como Advogado, eleito para o Instituto dos Advogados Brasileiros (poucos são), tendo ocupado comissões como a de Reforma do Poder Judiciário e de Direito Comunitário e após presidir a Associação Americana de Juristas, resolvi ingressar no Ministério Público da União para atuar especialmente junto à proteção dos Direitos Fundamentais dos Trabalhadores públicos e privados e na defesa dos interesses de toda a Sociedade. E assim o fiz: passei em quarto lugar nacional, terceiro lugar para a região Sul/Sudeste e em primeiro lugar no Estado de São Paulo. Após rápida passagem por Campinas, insisti com o Procurador-Geral em Brasília e fiz questão de vir para Mogi das Cruzes.

Em nossa Procuradoria, Doutor é só quem tem título acadêmico. Lá está estampado na parede para todos verem.

E não teve ninguém que reclamasse; porque, aliás, como disse linhas acima, foi a própria Ordem dos Advogados do Brasil quem assim determinou, conforme as decisões seguintes do Tribunal de Ética e Disciplina: Processos: E-3.652/2008; E-3.221/2005; E-2.573/02; E-2067/99; E-1.815/98.

Em resumo, dizem as decisões acima: não pode e não deve exigir o tratamento de Doutor ou apresentar-se como tal aquele que não possua titulação acadêmica para tanto.

Como eu costumo matar a cobra e matar bem matada, segue endereço oficial na Internet para consulta sobre a Lei Imperial:


Os profissionais, sejam quais forem, têm de ser respeitados pelo que fazem de bom e não arrogar para si tratamento ao qual não façam jus. Isso vale para todos. Mas para os profissionais do Direito é mais séria a recomendação.

Afinal, cumprir a lei e concretizar o Direito é nossa função. Respeitemos a lei e o Direito, portanto; estudemos e, aí assim, exijamos o tratamento que conquistarmos. Mas só então.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Movimento Desvirtuamento do Espírito da Cotas Sociais


REPRODUZIMOS NESTE ESPAÇO, PEQUENO TEXTO DO  
MOVIMENTO DESVIRTUAMENTO 
DO ESPÍRITO DA COTAS SOCIAIS  
DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL, 
DA QUAL PARTILHAMOS TOTALMENTE, 
ESTABELECENDO CONTRAPONTO AO SISTEMA DE RESERVA DE VAGAS DA 
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MATO GROSSO DO SUL, 
IGUALMENTE INJUSTO EM SEU FALHO SISTEMA 
PARA O INGRESSO DOS CIDADÃOS NEGROS.

Criamos esse canal de comunicação com a intenção de divulgar o que andou e anda acontecendo nos vestibulares da UFRGS. Em primeiro lugar, gostaríamos de esclarecer que não somos contra as cotas, as cotas são necessárias na nossa sociedade para que possamos incluir pessoas com menor poder aquisitivo no Ensino Superior.
Na verdade somos contra o critério utilizado pela UFRGS e queremos informar sobre o assunto! A partir do CONCURSO VESTIBULAR 2008 da UFRGS houve a implementação do Sistema de Reserva de Vagas. Tal sistema foi introduzido com o intuito de diminuir a desigualdade social. Para entrar pelo Sistema de Reserva de vagas era necessário ter concluído pelo menos metade do Ensino Fundamental e a totalidade do Ensino Médio em Escola Pública.
Tal disposição pode ser encontrada no Edital do concurso no seguinte item “1.5.3 - Para fins deste Edital, entende-se por egresso do ensino público o candidato que cursou com aprovação, no Sistema de Ensino Público, pelo menos a metade do Ensino Fundamental e a totalidade do Ensino Médio”. A partir desse item, pessoas com condições sócio-econômicas classificadas como classe média alta entraram na universidade.
Como isso foi possível? O fato é que os Colégios que mais aprovam na UFRGS são justamente os Colégios Públicos, dentre eles Colégio Militar, Colégio Tiradentes, Colégio de Aplicação - UFRGS, entre outros. Tais instituições são conhecidas pelo alto padrão de ensino que poucas escolas particulares conseguem atingir.
O site pode ser acessado para confirmar o depoimento de um dos colégios.
O índice de aprovação somente na UFRGS do Colégio Militar foi de 59,25%. Alunos privilegiados dessas instituições, em grande parte, possuem excelentes condições financeiras. Logo, ao estabelecer o critério, errôneo, de reservar vagas aos egressos de Escolas Públicas, a desigualdade social, que a universidade pretendia corrigir, não se alterou. Diversos estudantes injustiçados pelo Programa de Ações Afirmativas da UFRGS entraram na justiça e ganharam o direito de se matricularem na Universidade Federal através de mandado judicial. Nas decisões de diversos juízes e desembargadores federais do Tribunal Regional Federal da 4ª região, há um ponto em comum que merece destaque: todos concordam que “houve desvirtuamento do Programa de Ações Afirmativas da UFRGS”. A justiça determinou que a UFRGS apresentasse documentação referente aos cotistas, incluindo nome, endereço e colocação no vestibular. Não foi surpresa saber que a maior parte dos cotistas, tidos como hipossuficientes, morarem em bairros nobres da cidade, como o Bela Vista, Cristal, Azenha. Muitos possuem carros próprios e outros JÁ SÃO FORMADOS EM CURSO SUPERIOR POR INSTITUIÇÕES PRIVADAS. Existe o caso de um cotista formado em três cursos superiores e que possui duas pós-graduações.
Além das fotos das residências e currículos lattes de cotistas, existem fotos no orkut (site de relacionamentos) de cotistas surfando ou em viagem ao exterior, com fotos em Nova York e Caribe ou abraçados em presentes ganhos pela aprovação no vestibular. Os cotistas não podem ser responsabilizados por essa quantidade de fatos estranhos. Quem deve ser responsabilizada é a universidade, que não realizou pesquisas sócio-econômicas para estabelecer um critério adequado. Qualquer um que conheça o Rio Grande do Sul sabe que, muitas vezes, estudar em algumas Escolas Públicas é um privilégio para poucos, como é o caso do Colégio Militar, do Colégio Tiradentes e outros.
É fácil analisar que HOUVE DESVIRTUAMENTO DO PROGRAMA DE AÇÕES AFIRMATIVAS DA UFRGS.
Convidamos nossos visitantes a se engajarem conosco nessa LUTA CONTRA O DESVIRTUMENTO DO SISTEMA DE AÇÕES AFIRMATIVAS.
Afinal, em janeiro de 2009 milhares de candidatos e suas famílias estarão outra vez na expectativa de uma vaga na UFRGS. A frustração que aconteceu com muitos estudantes neste ano não pode se repetir.

http://desvirtuamentoufrgs.blogspot.com

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Site do 1º Batalhão de Polícia de Choque de SP insiste em desvirtuar a história

* Fonte portal "http://www.consciencia.net"


No Portal do Governo do Estado de São Paulo, o internauta tem acesso à página virtual do 1º Batalhão de Polícia de ChoqueRondas Ostensivas Tobias de AguiarRota.
E nesta, clicando em Histórico do BTA, encontrará:
Marcando, desde a sua criação, a história desta nação, este Batalhão teve seu efetivo presente em inúmeras operações militares, sempre com participação decisiva e influente, demonstrando a galhardia e lealdade de seus homens, podendo ser citadas, dentre outras, as seguintes campanhas de Guerra:
  • Campanha do Paraná, em 1894…
  • Questão dos Protocolos, em 1896…
  • Guerra de Canudos, em 1897 …
  • Levante do Forte de Copacabana, em 1922…
  • Revolução de 1964, quando participou da derrubada do então Presidente da República João Goulart, apoiando a sociedade [os grifos são meus] e as Forças Armadas, dando início ao regime militar com o Presidente Castelo Branco;
  • Campanha do Vale do Rio Ribeira do Iguape, em 1970, para sufocar a Guerrilha Rural instituída por Carlos Lamarca…
Depois, em Os Boinas Pretas, lê-se o seguinte:
Sufocado o foco da guerrilha rural no Vale do Ribeira, com a participação ativa do então denominado Primeiro Batalhão Policial Militar “TOBIAS DE AGUIAR”, os remanescentes e seguidores, desde 1969, de “Lamarca” e “Mariguela” continuam a implantar o pânico, a intranqüilidade e a insegurança na Capital e Grande São Paulo. Ataques a quartéis e sentinelas, assassinatos de civis e militares, seqüestros, roubos a bancos e ações terroristas. Estava implantado o terror.
Mais uma vez dentro da história, o Primeiro Batalhão Policial Militar “TOBIAS DE AGUIAR”, sob o comando do Ten Cel SALVADOR D’AQUINO, é chamado a dar seqüência no seu passado heróico, desta vez no combate à Guerrilha Urbana que atormentava o povo paulista.
Havia a necessidade da criação de um policiamento enérgico, reforçado, com mobilidade e eficácia de ação.
Incumbe-se à 2ª Cia de Segurança do Primeiro Batalhão Policial Militar, exclusivamente de Tropa de Choque, a iniciar o Patrulhamento Ostensivo Motorizado no Centro de São Paulo.
Surge então o embrião da ROTA, a Ronda Bancária, que tinha como missão reprimir e coibir os roubos a bancos e outras ações violentas praticadas por criminosos e por grupos terroristas.
Em 15 de outubro de 1970, este “embrião” passa a denominar-se “RONDAS OSTENSIVAS TOBIAS DE AGUIAR” – ROTA.
A PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR
A indagação que continuarei fazendo enquanto este entulho autoritário não for tirado do ar é: tais conceitos e tal visão da História brasileira são ainda endossados pelo Governo paulista?

Caso contrário, por que o Governo paulista mantém até hoje em seu portal a retórica falaciosa da ditadura militar, apresentando resistentes como transgressores e, implicitamente, uma tirania exercida por golpistas como Poder legítimo?

Foi o que indaguei do então governador José Serra, em carta aberta, no mês de outubro de 2008.
E consegui que lhe fosse perguntado numa sabatina da Folha de S. Paulo em junho de 2010, quando já deixara o governo.
Tendo ele negado que tais aberrações fossem avalizadas pelo Governo paulista, enviei carta a Alberto Goldman, o seu substituto no Palácio dos Bandeirantes (vide comentários do mesmo artigo), que foi recebida, protocolada e, verdadeiramente, não respondida — prometeu-se estudar o caso, e nenhuma outra satisfação me foi dada.
Então, hoje transmito a mesma queixa ao governador Geraldo Alckmin.
Eu e todos que lutamos contra o arbítrio instaurado em 1964 continuamos indignados com os infames elogios à derrubada de um presidente legítimo e a ações repressivas executadas durante a vigência do terrorismo de estado no Brasil, marcada por atrocidades, execuções covardes, estupro de  prisioneiras, ocultação de cadáveres e o sem-número de outros crimes e arbitrariedades com que os déspotas intimidavam nosso povo,  para mantê-lo subjugado.
Enquanto o governo democrático do Estado de São Paulo não agir como tal, continuarei repetindo esta cobrança.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

COMPRAR PRA QUÊ? “CRER! POR QUÊ? PARA QUÊ? SEM QUERER?”

                 Eu vou continuar com meu celular. Faz quase seis anos que o tenho e não vi motivos para me desfazer do mesmo. É um Siemens A57. “Compra um com mp3, câmera de vídeo, foto, Bluetooth”, dizem. Não me convence. Se usar o mp3 a bateria logo, e na hora que precisar de, realmente, se comunicar a bateria já acabou. O vídeo do celular é de péssima resolução, a foto também. E o bluetooth, não entendi a utilidade ainda. 
                O mercado faz de tudo pro consumidor comprar um celular mais moderno. Parece pegadinha. Em se tratando de tecnologia, não adianta pagar caro por ter a melhor tecnologia. Ela vai ser superada seis meses depois, ou menos. As pessoas estranham um celular tão “velho” como o meu. Esse é meu trunfo! Não faço questão de esconder o celular. Muito pelo contrário. É cômico ver a cara das pessoas quando tiro o velho guerreiro do bolso. “Mas como você, agora, como advogado anda com um celular desses?”. Então, eu não sou trabalho em companhia telefônica, nem na ANATEL. Se eu tiver um celular moderno e com n funções vou ser mais competente? As pessoas vão me achar mais competente? Se a resposta for sim, estamos perdidos mesmo. Não quero acreditar nisso. “Ter é saber?” vêm aqueles pensamentos dignos da mesa do bar. 
                 O Roberto Carlos estava errado. Não “é preciso saber viver”, é preciso ter algum objeto que demonstra valor, status ou posição social. Não vejo problema algum em sermos consumistas. Complica quando o mercado faz o coitado do consumidor de besta. Alguém me explica para quê a TV Widescreen? E se eu quiser comprar uma TV normal? Não tem! Quando vi a primeira vez uma TV Wide estava sendo transmitida a programação normal da televisão aberta, e a imagem ficava achatada. Mas a TV Wide é status! É poder! Os filmes agora só vem em formato 16:9, ou 16:10. Assisti ao classiquíssimo “Bem-Hur”, e remasterizaram para Wide. Não chego a outra conclusão. A gente é feito de besta o tempo todo.




domingo, 23 de janeiro de 2011

Gilberto Braga: 'Se Lázaro Ramos não existisse, André seria branco'

               Gilberto Braga, autor de 'Insensato Coração', afirmou em entrevista ao jornal O Globo, publicada neste sábado, 22, que criou o conquistador André Gurgel especialmente para Lázaro Ramos. "Lázaro é o melhor dos nossos atores negros. Se o Lázaro não existisse, André seria branco", afirmou.
               A interpretação de Lázaro e a relação do conquistador com as personagens de Camila Pitanga e Deborah Secco têm recebido elogios e críticas no Twitter e outras redes sociais. O marido de Taís Araújo disse que não se surpreende com o estranhamento do telespectador.
"Acho natural que as pessoas estranhem, porque eu, assim como o público, ainda estou descobrindo o André. André é um arquétipo tão novo que não sei como explicá-lo. Sei que ele é mais marrento do que o Romário e isso causa estranheza quando associado a um ator como eu, que, na TV, vinha fazendo sempre tipos simpáticos", afirmou.
http://br.omg.yahoo.com/news/gilberto-braga-se-l%C3%A1zaro-ramos-n%C3%A3o-existisse-andr%C3%A9-seria-branco-edyq-99128.html

               Logo percebi eu que o negro burgues carioca, na cena em que convida a Camila Pitanga pra passar o final de semana num Iate, era estranho demais. Estranho porque esse personagem do Lazaro Ramos é totalmente fictício. Não existe. Parabéns pro autor Gilberto Braga em assumir seu preconceito. "Se não fosse o Lázaro, esse personagem seria branco". É claro. É lógico.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

EU ASSITO BIG BROTHER

               O Big Brother é uma novela. Todo mundo sabe. E eu assisto BBB. Mas não assisto novela. Não entendo também. Mas os participantes não são atores profissionais e não são pagos pra isso. São pagos justamente para o contrário, ou seja, pela sua amadorisse. Quanto mais amador no trato com as pessoas, com as coisas e com o dinheiro melhor para a emissora. A novela oferece maior audiência. É obvio. Contudo, essas linhas não são direcionadas a esta emissora. Agora não. Tudo isso vem pra introduzir o Grande Evento que foi o primeiro paredão desta 11ª Edição. Parece até livro bom que vende. Nas referencias ficaria assim:
GLOBO, Tevê. Big Brother Brasil. 11ª Ed. Rio de Janeiro: Grupo Marinho domina toda a opinião pública, 2011.
              O paredão: Ariadna (Negra/o, Transsexual, Garota/o de Programa); Lucival (Negro e Homossexual) e Janaína (Negra e Escadalosa). Dificílimo. A família brasileira sentada no sofá todo dia pra assistir ao BBB. Não admite e não admitiu ver negros na televisão. Ariadna era a mais autêntica a mais popular, a mais camarada, candidata séria ao 1 milhão e meio. Mas dentre os negros do paredão era a mais difícil de engolir. A pessoa entra num colapso de valores.  “- Como posso eu gostar de uma negra ou negro transexual garoto ou garota de programa?” Não existe o preconceito no Brasil?
              Ora, minutos antes esta mesma família assiste a novela das 8. Acompanha as peripécias de “Clô” (personagem interpretado por Irene Ravache), uma megamilionária que ostenta seu luxo, e delicia-se pela realização do sonho de morar no “Jardim América”. Assiste também o Cauã Raymond e sua “luta” pra se livrar das drogas. Que luta bonita. Comovente. Ele fica barbudo, a mãe está sempre do seu lado, ele freqüenta uma espécie de A.A dos usuários de entorpecentes. Pronto. Ta livre do mal das drogas. Protejam as famílias das drogas. A mesma família que acha o máximo o comercial da cerveja. A bebida alcoólica que todo mundo adora. Simples assim.
              A família brasileira nem sabe a contradição que vive e que sustenta. Se souber faz revolução. É perigoso. Voltando. E depois não existe preconceito no Brasil. O BBB serve pra visualizar o preconceito racial sui generis a qual todos nós estamos condicionados. Hoje, outro participante, o modelo Rodrigão, em seus comentários viris sobre a negra carioquíssima Jaqueline: - Ela é linda. Mas eu não pego. Ok. Ta bom então.
              Traduzindo: - Ela é negra. Mas é linda. Pego? Mas é negra. Por isso não pego.